Fotos: Bruno Cotrim
Uma flor gigante está se abrindo. Pode até parece que a lama do discurso de ódio que escorre pelos nossos dias vai inundar a todos. Mas, para os jardineiros do planeta, essa lama é a base para fincar as raízes das lótus mais bonitas, que brotam na forma do cuidado com o próximo. Porque, em uma sociedade na qual termos como “solidariedade” e “consciência coletiva” soam bobos, empatia — assim como a lótus — é resistência.
“A gente pensa que está ajudando ao outro, mas, na verdade, está ajudando a gente mesmo. É parte do meu processo de cura da criança interior”, explica Maria do Socorro, da Associação Beneficente Flor da Vida, sobre as atividades semanais que organiza para crianças na Ocupação Nove de Julho, no centro de São Paulo. “Eu tenho um questionamento que é: como é ser uma criança, filha de imigrantes, que vive em uma ocupação? Elas têm orgulho das suas raízes? Nas escolas, elas ouvem que são invasoras. Como é a auto-estima dessas crianças?”, se pergunta ela.
A ocupação, que fica em uma antiga sede do INSS abandonada por três décadas, também recebeu uma tarde de atividades infantis, organizada pelo Ateliê Santa Benção, em parcerias como a do projeto Serpente Sagrada e amigos que consagram as medicinas da floresta. “A gente vai para os rituais de ayahuasca para trabalhar, mas ele não pode se encerrar ali. Precisamos de ações efetivas. A medicina pede isso”, acredita Joyce Trajano, do Ateliê. “Eu penso: como a minha transformação pode ser positiva para o outro?”
Entre rodas de capoeira, percussão e aulas de yoga, os atores que fizeram brincadeiras de palhaço com as crianças falaram da importância de cultivar o caminho que fazemos para dentro de si. “O autoconhecimento acontece no micro para a gente agir no macro”, disse Helena Cukir. Para Lucas Perozzi, o mundo de fora é um reflexo do que temos por dentro: “Chega uma hora que o autoconhecimento precisa expandir”, diz ele.
Em um tempo no qual armamento e violência se tornam soluções para problemas complexos da sociedade, a empatia surge para lembrar que uma arma poderosa não precisa ser munida de ódio. Mas, para o filósofo taoísta Chuang-Tzu, para ter acesso a essa arma da empatia é preciso saber escutar: “... exige o vazio de todas as faculdades. E quando as faculdades estão vazias, então todo o ser ouve. Há então uma compreensão direta do que está bem diante de você, que nunca pode ser escutado com o ouvido ou compreendido com a mente ”.