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Michael Harner e as outras realidades do xamanismo


Michael Harner passou a vida dedicado a responder uma questão: o que é xamanismo? Em 2018, o antropólogo norte-americano fez sua passagem para o mundo dos espíritos — o qual antes só acessava em um estado de consciência específico —, mas deixou para trás um legado imenso sobre a cultura de povos nativos do mundo todo.

"Michael Harner é amplamente conhecido como a maior autoridade em xamanismo do mundo e teve uma influência profunda tanto no mundo acadêmico quanto entre os leigos. O que Yogananda fez pelo hinduísmo e D.T. Suzuki fez pelo zen, Michael Harner fez pelo xamanismo, trazendo a tradição e sua riqueza para a atenção dos ocidentais", disse Roger Walsh, professor de filosofia e psiquiatria da Universidade da Califórnia, no documentário The Way of the Shaman: The Work of Michael and Sandra Harner.

Doutor pela Universidade da Califórnia, o antropólogo lecionou em algumas das melhores universidades do mundo, como Columbia, Yale e UC Berkley, mas foi entre os povos indígenas que ele recebeu os maiores ensinamentos.

Trabalhando como arqueólogo, na década de 1950, Harner descobriu que tinha mais interesse em entender as simbologias e a cultura ao redor dos objetos que escavava do que nas escavações em si. Logo, foi convidado para uma expedição no Equador.

Jovem e com pouco, ou nenhum conhecimento sobre os mistérios do Universo, Harner se viu em uma tribo afastada, tentando entender os comportamentos que julgava ser loucura. “Quanto mais perguntava, mais entendia que as pessoas que aparentemente controlavam a loucura não eram loucas, elas mudavam o estado de consciência a fim de curar pessoas e ver coisas que os outros deixam passar”, afirma ele, no documentário.

Os sábios do lugar disseram que se Harner quisesse entender o que era ser um xamã, ele deveria tomar uma bebida tida como sagrada pelos indígenas: o chá de ayahuasca.

Esse foi o despertar que levou o antropólogo a criar, com sua esposa Sandra, a Fundação para Estudos Xamânicos, uma das maiores referências de catalogação, preservação e estudo dos saberes ancestrais de vários povos. Além disso, com obras como O Caminho do Xamã, de 1980, Harner abriu as cortinas de um universo totalmente novo e misterioso para os habitantes das grandes cidades, com técnicas que conduzem as pessoas às suas próprias experiências e conclusões.

Em entrevista à revista Alternative Therapies, Harner resumiu sua visão do xamanismo:

A palavra xamã, no idioma original Tungus, se refere a pessoas que fazem viagens a realidades não comuns, em estado alterado de consciência. Adotar esse termo no Ocidente foi útil porque as pessoas não sabem o que significa. Termos como “mago”, “bruxa”, “feiticeiro” e “curandeiro” já têm suas próprias conotações, ambiguidades e preconceitos.

Apesar do termo ser da Sibéria, a prática do xamanismo existe em todos os continentes. Depois de anos de pesquisa, Mircea Eliade, no livro “Shamanism: Archaic Techniques of Ecstasy”, concluiu que o xamanismo perpassa todas as outras tradições espirituais do planeta e que sua função mais (mas não única) é a viagem para outros mundos em estados alterados de consciência.

Xamãs são frequentemente chamados de “videntes” ou “aqueles que sabem” nos idiomas tribais, porque eles estão envolvidos em um sistema de conhecimento baseado em experiências de primeira mão. Xamanismo não é um sistema de crenças. Ele é baseado em experiências pessoais que conduzem à cura, à busca por informação (...).

Logo no início de suas pesquisas, Harner descobriu que o uso de substâncias enteógenas era só uma da possibilidades de guia para estados alterados de consciência, que o tambor também poderia ser usado para levar ao transe, entre outras ferramentas. “Existem diferentes portas para um outro lugar. E que outro lugar é esse? É uma outra realidade”, diz ele, no documentário.

Em uma conversa com o psicólogo e professor espiritual Ram Dass, Harner fala mais sobre outras realidades e explica seu conceito de “democracia espiritual”. “É a ideia de que não tem ninguém te dizendo no que acreditar. O trabalho não vai ser baseado em fé, mas em experiências. As pessoas poderão conduzir experimentos e ter seu próprio contato com o que eu chamo de mundo espiritual.”

Todo o trabalho do antropólogo pode ser resumido em tentar trazer de volta à ligação dos seres humanos com formas mais sutis de perceber o mundo, formas que foram extintas pela visão materialista da realidade ou roubadas por instituições que se impunham como os únicos elos de ligação entre as pessoas e o sagrado.

Em um tempo no qual a poluição e o desmatamento ameaçam a Terra, o xamanismo divulgado por Harner surge como uma questão de sobrevivência, já que nos ensina sobre a reconecção perdida com a natureza — e com nós mesmos.

Nathan Fernandes é jornalista e escreve sobre os mistérios do Universo no instagram @nathanef.

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