Para Terence McKenna, viver sem ter experiências psicodélicas é como viver sem fazer sexo. Segundo o filósofo e etnobotânico norte-americano, substâncias como o DMT (presente na ayahuasca) e a psilocibina (dos cogumelos) guardam a programação da linguagem da mente e do cosmos. “Não há verdade mais profunda”, disse ele à revista Wired. Mckenna dizia que sua missão era dar permissão às pessoas. Ou como define o futurólogo Mark Pesce na mesma revista: “Tudo o que McKenna está pedindo é para nos tornarmos xamãs, fazer uma jornada ruma à transcendência e tirar nossas próprias conclusões”.
No contexto da Guerra Fria dos anos 1970 e 1980, era como se a sociedade precisasse de uma fogueira que esquentasse as tensões e a fizesse enxergar para além da cortina de ferro. McKenna era essa fogueria. Suas chamas alimentavam o inconsciente de frequentadores de raves e acadêmicos que se recusavam a viver sob uma realidade construída na base de dor e sofrimento. E sua fumaça se espalha pelos quatro cantos do mundo até hoje.
Terence Mckenna, por Mesloes
O escritor repudiava a forma como o governo tenta controlar o uso de substâncias psicodélicas, porque isso significa um controle sobre a própria mente das pessoas. “Se essas coisas expandem de fato a consciência, não é preciso muita inteligência para compreender que é precisamente a ausência de consciência que está causando nosso flerte com a extinção e com o desastre planetário”, disse ele, na palestra Tempos de Mudança. “Se houver alguma forma de elevar consciências, seja com dietas, drogas, máquinas, práticas sexuais, mantras, yantras, ou o que quer se seja, deveríamos estar furiosamente explorando e aplicando isso.”
Não à toa McKenna mergulhou fundo no oceano dos psicodélicos e do xamanismo e voltou de lá com ideias fluidas demais para uma sociedade acostumada à rigidez das instituições. Nos próximos textos, vamos viajar por parte de seu legado mais importante, como suas ideias sobre o tempo e a relação dos cogumelos com a evolução da consciência humana, contemplando a fonte dos mistérios que McKenna jamais abandonou.
Nunca acreditou muito no conceito de realidade que era imposto a ele. Para o filósofo e etnobotânico, tudo poderia ser questionado, inclusive o que concebemos como tempo. Uma das primeiras ideias que o tornaram conhecido por alguns — e visto como louco por outros — está no livro The Invisible Landscape. Na obra, ele detalha sua teoria sobre o tempo, baseada no I Ching e nas experiência que viveu com ayahuasca e cogumelo, na Colômbia.
Se para outros cientistas usar um oráculo místico chinês como o I Ching para revolucionar a física soava estranho, para McKenna isso fazia todo sentido.
“Pense nas dunas de areia e repare como elas se parecem com o vento”, explica ele, em um vídeo. “O vento é um fenômeno de pressão variável que flutua no tempo. De certo modo, as dunas que se movem pelo vento são como uma fatia dimensional mais baixa do próprio vento. Analisando imagens das dunas, é possível calcular a duração e a velocidade dos ventos que as criaram.”
Em seguida, ele pede para, em vez de dunas, imaginar o gene, e, em vez de vento, imaginar milhões de anos de evolução. A evolução transforma o gene humano, que seria uma fatia dimensional mais baixa da própria força que o transformou. “Em outras palavras, em todo organismo vivo existe a pegada da dimensão superior que o criou.” Ele poderia estar falando de Deus, mas como cientista McKenna diz que isso é o DNA, que é baseado em um sistema de 64 combinações diferentes. Exatamente igual ao I Ching.
Para o escritor, todos os eventos que acontecem no mundo seriam variações destas 64 combinações. Não se trata de previsão do futuro, mas de cálculos matemáticos. “O I Ching não é um livro de misticismo chinês, mas um livro de dinâmica molecular que vê através da física e que permite a biologia existir”, diz ele.
“Nós podemos acender o fogo que queima no coração das estrelas”, dizia McKenna ao afirmar que a ciência ocidental é fascinada pela energia — um processo que terminou em explosões nucleares. Já os orientais dirigiram todo o seu conhecimento para o entendimento do tempo. Energia e tempo são duas questões diferentes a serem entendidas, que exigem equipamentos distintos para sua compreensão. Enquanto aqui nós usamos aceleradores de partículas, a ciência oriental usa a meditação e mergulha dentro de si mesma para entender suas questões.
Quem persegue o entendimento do tempo alcança uma relação tão sofisticada com esse conceito quanto quem persegue o entendimento da matéria e desenvolve a habilidade de desencadear fissões e fusões nucleares. É uma questão de foco, não de misticismo. “A junção destes dois pontos de vista nos dá um entendimento completo do Universo, do espaço-tempo, da matéria e da energia”, diz McKenna.
Na década de 1990, ao unir o I Ching com a matemática, o escritor criou o site Timewave Zero, com um software que, segundo ele, seria capaz de prever acontecimento futuros.
A ideia pode soar absurda, mas não se lembrarmos que o que consideramos tempo, na verdade, é só uma convenção. A medida de hora, meses e anos, por exemplo, não corresponde ao tempo “real” do Universo. São apenas maneiras criadas pelo homem para se organizar — um marciano não teria a mesma noção de ano que alguém na Terra.
É importante lembrar que absolutamente TODAS as forças científicas que conhecemos do Universo são apenas maneiras que a humanidade descobriu para tentar entender os mistérios que nos cercam, com base em nossa consciência limitada.
As ideias de Einstein de que o tempo e o espaço são a mesma coisa, de que o tecido do tempo-espaço se deforma com o peso da gravidade (como uma bola de boliche sob o tecido de uma cama elástica), e que o tempo não é o mesmo em todos os lugares do cosmos são bem aceitas pela física. Mas não são definitivas. Porque não temos como comprovar tudo isso em laboratório. Questionar é o trabalho do cientista. É o que McKenna faz.
Continue lendo aqui (parte 2)...
Nathan Fernandes escreve sobre os mistérios do Universo no instagram @nathanef.
Comentarios